Num instante fulminante de um olhar


Para mim parecia me uma rapariga normal.
Na verdade, nem reparei nela na primeira vez que a vi.
O nosso trabalho é muito focado no que temos á frente, por isso a primeira vez em que levantei os olhos e cruzei olhar com ela, questão de milésimos de segundo, foi como se tivesse sido atingido com uma descarga eléctrica da cabeça aos pés. Foi anormal... talvez esteja a dizer isto por sugestão, depois de ter vivido o que vivi, na verdade ainda não me recuperei. Não pensei que fosse possível.
Na minha perspectiva era apenas uma miúda tímida, divertia me a olhar para ela e vê-la a desviar o olhar com aquele jeito embaraçado.
Nunca falei abertamente com ela, não conseguia, talvez mexesse demasiado comigo. Penso que devo ter sentido algo por ela... Eu era casado há pouco tempo, e muitas vezes pensei se não teria cometia um erro em casar-me sem a ter conhecido, mas como poderia eu adivinhar?

dia em que tudo aconteceu, era mais um dia, estávamos todos na perspectiva de ir para o desemprego, o país atravessava uma crise profunda, milhares de pessoas de todas as idades no desemprego, no desespero. Casa para pagar, filhos para criar.
Esse dia era mais um dia de despedimentos.
Era me surpreendente como a minha superior o fazia de animo tão leve.
Ela ria bem alto enquanto as pessoas choravam sem saber o que fazer ás suas vidas.

Notei que ela nesse dia estava com a face mais carregada, talvez, pensei eu, teria medo de ser despedida também.
Como ela não estava a prestar atenção ao olhar admirativo e até atrevido que eu estava a ter sobre ela desde o outro lado da sala, reparei na cor dos seus cabelos, dos seus olhos. Cabelos que lhe caiam bem abaixo do meio das costas. Vermelho, bem, na verdade, não era um vermelho ao estilo "emo" que até ofusca. Era um vermelho quase bordeaux mas extremamente brilhante, com suaves caracóis largos. E os olhos, talvez por causa da cor do cabelo era de uma cor surpreendente, pareciam quase um castanho avermelhado.
Quase saltei da cadeira quando ela olhou-me volta. Algo mudara, eu sabia.
Ouvi o pensamento mais alto que alguma vez tivera dentro de mim. "o que Deus une, que não separe o Homem, foi o compromisso que fizeste, honra-o"
De onde veio isto?
A forma como me olhava era de uma intensidade avassaladora, havia algo de diferente nela, um brilho, que aumentava e de repente.... Tudo voou, cadeiras, mesas, computadores, pessoas, tudo caiu revirado no chão, inclusive eu. Não teria passado muito tempo, quando senti algo a passar na minha mão, algo macio, mais macio do que algo que eu tinha sentido. Uma pena. Uma pena? Olhei para cima, e vi a. Não podia acreditar nos meus olhos.... Um anjo?
Os seus olhos, agora sim, eram do vermelho mais maravilhoso que alguma vez vira, e os cabelos cresceram bem para alem do que tinha visto apenas alguns minutos atrás, um vermelho radiante.
Passou por mim como se toda a leveza do ar estivesse nos seus pés até ao fundo da sala, até á minha superior, que a olhou, assustada, pediu-lhe perdão e o anjo sorriu-lhe enquanto lhe colocava a mão na sua face e ela gritou. O grito mais aterrador que possam imaginar. Soube mais tarde, que ela reuniu num só toque toda a dor que minha superior tinha infligido nas pessoas.
As pessoas na sala, estavam ajoelhadas, outras choravam, outras tentavam chegar perto.
Por fim, olhou para nós, sorriu e e na mesma luz brilhante, desapareceu.
Nunca mais a vi, mas ainda tenho presente na memória a forma como ela me entrou nos pensamentos...

Devia escrever um livro, que acham? ehehehehe
Cheers :)



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