História....



(Esta história merece ser lida acompanhada de uma música bonita e calma. Escolham uma do reportório do blog e acompanhem a leitura). Enjoy
"Sim já namoro..."
E foi ali.... em que tudo acabou. E pela primeira vez desde que o vi, não senti prazer em estar na presença dele.
Os meus olhos baixaram e olhei pelo canto do meu olho, a porta. Nunca me pareceu tão convidativa. O meu coração comandava-me para levantar e sair da mesa, a minha mente mandou-me enfrentar.
O crepe à minha frente deu-me náuseas, sentia-me tonta e pesada e subitamente sem chão debaixo dos meus pés....
"E tu já tens alguém?"
Não respondi, não conseguia. Só conseguia gritar para mim mesma o quanto idiota eu era por ainda nutrir sentimentos por ele. Parva....
"Acho que preciso de ir, posso perder o comboio"
"Já?" senti angustia na voz dele. "Sabes que podes ficar e ir amanhã".
"Não posso." disse sem olhar nos olhos dele.
Vi-o levantar-se e ir pagar o jantar ao balcão.
Fiquei a observa-lo... Era demasiado bonito... Virei a cara com tristeza.
Caminhei ao lado dele até ao carro em silêncio, acenando apenas com a cabeça aquilo que ele dizia. Precisava de sair dali.
Abriu-me a porta do seu carro recentemente comprado. Um dos carros mais bonitos que eu tinha visto.
Enquanto ele dava a volta para se sentar no lugar do condutor, observei o interior, sabendo que seria a ultima vez que eu o veria.
"Queres ir tomar café?"
"Preciso comprar o bilhete" - parecia e sentia-me um automato.
Parou o carro em frente à estação. Sai apressadamente do carro, quase não lhe dando tempo para me seguir.
"Lamento mas tivemos um problema na linha, ainda não sabemos se vai haver comboio esta noite, só daqui a uma hora é que lhe poderei dizer". disse me o senhor da bilheteira.
O quê?
Notei um sorriso de satisfação na cara dele, talvez por achar que iria "torturar-me" por mais algumas horas.
Mas eu estava decidida. Tinha de sair de perto dele naquela noite, era demasiado insuportável a dor de o ver. De o ter assim tão perto e não lhe poder tocar, saber que ele já não era meu e que outros braços o abraçariam.
"Muito bem , volto dentro de uma hora." respondi de voz sumida.
Olhei para ele, para o seu sorriso disfarçado.
"Tomamos café enquanto esperas".
Rumamos a uma café ali perto.
Estive perdida dentro das minhas próprias lutas nessa hora, enquanto o observava, os movimentos, a forma como o cabelo grosso e curto se espetava no ar, os gestos e o perfume que ocasionalmente a brisa de Verão trazia para perto de mim.
Uma hora depois saí ainda com mais pressa do carro, rezando secretamente para que um milagre acontecesse. Tinha de haver comboio.
"Sim, temos confirmação que vai haver comboio dentro de 20 minutos".
Respirei com um pouco de alívio.
Olhei para ele com um olhar de vitória. Mas por dentro estava doente.
Enquanto tirava o cartão multibanco da carteira, ele pediu me novamente.
"Vai amanhã."
"Não posso."
Sabia que apesar de tudo, ele não queria que eu fosse, ele queria ter mais umas horas na minha companhia. Tivemos sempre bons momentos, riamos muito e éramos felizes. Noutra altura. Talvez noutra vida, não sei.
Conhecia o tão bem e ao mesmo tempo, tão mal.
20 minutos que pareceram horas.
Mas a luz brilhante do comboio rompeu a noite e o gigante metálico parou em frente de mim.
Olhei para ele, agradeci-lhe a companhia, o dia passado na sua companhia e o jantar. Beijei lhe a face o mais rápido que pude. Era doloroso, era gritante.
Ao por o pé no degrau do comboio, olhei para trás e lá estava ele. Lindo. Perfeito. Para sempre de outro alguém.
Ambos soubemos que seria a ultima vez que nos veríamos...
Sentei me e pela primeira vez dei a mim mesma a liberdade de chorar.
Lágrimas gordas e pesadas rolaram-me pela face, libertando tudo o que estava preso dentro de mim.
Sentou-se ao meu lado um jovem militar que me olhou com curiosidade. Olhei pelo vidro para a noite escura, limpei as lágrimas e disse: "Chega".
Sorri -lhe de volta timidamente.
O comboio partiu, para sempre...
Cheers :)

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